segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A sabedoria do Livro de Jó

 

Há milhares de casos, como o de Jó, em cada época e em cada povo, onde quem tinha, agora já não tem.  Alguns ficam sem emprego, outros sem terra, outros sem bens, outros sem absolutamente nada. O despojamento da condição material de vida é vista como  um despojamento da dignidade existencial do ser e a declaração da negação à sua condição de vida. O livro mostra como essa experiência tem sabor sapiencial, repetitivo e atual. A história de Jó, ontem, é um acontecer nos dias de hoje.                                                                                                                                                        A sabedoria se manifesta em três momentos da vida do personagem bíblico:                                       
a)      Uma situação bastante privilegiada e cômoda.
Os bens que ele possuía eram fruto do seu trabalho e da proteção de Deus O número   ( 7 significa plenitude, perfeição)  de filhos homens  corresponde ao número de ovelhas multiplicada por mil, e o número das filhas ( 3 que significa equilíbrio) será relacionado com os dos camelos, que é de três mil (Jó 1,2-3) Jó é um homem honesto e justo, mas seus filhos estariam no mesmo caminho?  Seus filhos faziam festanças de vários dias, que não eram nem religiosas nem de casamentos. As festas que tivessem o sentido de aproveitamento da vida, para gozar os bens acumulados como fruto da exploração dos pobres, tinham sempre o caráter de pecado. Jó tinha horror das festas dos filhos e as considerava abomináveis. Sabia, que ontem como hoje, esses banquetes envolvem a prostituição, a exploração dos pobres e dinheiro da iniquidade  (palavra que aparece 177 no AT que significa a negação da lei).

b)      Uma desgraça, como provocação de Satã e a destruição dos bens, da família, dos amigos. Jó revela no seu sofrimento, o paradoxo de quem ama a vida e o bem e, não obstante as contradições, confia tanto em Deus  que Ele vem ao seu encontro (Jó 38-42) Isto nos leva a uma reflexão sobre o pensamento teológico da época:
Uma teologia do sofrimento – o sonho mais profundo de todo ser é a felicidade, que muita vezes é vista sob o prisma da saciedade, o ter tudo o que se precisa, tudo o que se quer. Um arquétipo sociológico da felicidade é ter certa abundância de recursos materiais, facilidades econômicas e boas relações com pessoas de poder.  A prosperidade era considerada, nas culturas antigas como sinal externo da benção do seu protetor, da divindade ou do poder do alto (Dt 30,10-20) A privação era considerada como castigo, como conflito e clima ruim entre o humano e a divindade. (Ex 20,4-6; Jo 9,2-3) Para consolar surge a teologia do sofrimento: que sofrer é vontade de Deus.
E uma teologia das retribuições – na linguagem popular, esta crença se estabelece num provérbio: Quem aqui faz aqui paga! Na realidade, esta expressão não tem fundamento prático nenhum, pois quem paga quase sempre paga por causa da maldade dos outros. É o caso de Jó: ele que é justo, paga por causa do pecado dos outros. O grande mal da teologia da retribuição foi ela ter sido manipulada pela ideologia dominadora que pregava a prosperidade como benção e a pobreza como maldição e castigo. Os que prosperavam, mesmo às custas dos empobrecidos e dos subjugados à escravidão, estes estavam salvos e todos os outros condenados.


c)       Uma restauração como processo de evolução, amadurecimento e ampliação da compreensão da vida. Neste momento, Jó tem  uma visão mais precisa de Deus, do outro e dele mesmo.  Para comprovar que Deus é amor, e o mal não procede dele, na conclusão do livro, ele repreende duramente os adversários de Jó, porque eles haviam feito um discurso falso a respeito de Deus.

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