"Vão e façam com que todos os povos se tornem
meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e
ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês. Eis que eu estarei com
vocês todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28,19-20).
Trata-se, portanto de um grande marco para a
história da Igreja e de todos nós. Pentecostes era dentro do judaísmo, a festa
celebrada 50 dias após a Páscoa. Tratava-se da festa da colheita, na primavera,
da cevada e trigo. Mais tarde passou a ser a festa da Lei no
Sinai e a constituição do povo libertado do Egito como povo de Deus. Lucas não
vê em Pentecostes a nova Aliança formada pelos cristãos, mas sim a conclusão da
antiga Aliança, inaugurando os tempos messiânicos, último período da história
de Israel. Para Lucas, o tempo de espera terminou em Pentecostes. Os Cristãos
são a continuidade do povo hebreu. Por isso, não há nova, mas sim cumprimento
da antiga Aliança com Israel através de Jesus Cristo.
O texto sobre
Pentecostes encontra-se em Atos 2,1-13. O povo entende as palavras dos
Apóstolos cada qual falando em sua própria língua. O fenômeno está na audição e
não na emissão das palavras. Também a multidão presente parece estar contida
fora da casa. Os Apóstolos falam como profetas. Lucas utiliza
a língua em dois sentidos: órgão da boca e linguagem: As línguas (órgão) produzem
línguas (linguagem).
A presença do
Espírito de Deus realiza um grande milagre: transcende as barreiras da
linguagem, sem eliminar as diferenças culturais. Cada pessoa recebe o dom de
ouvir e entender o evangelho em toda terra. A dispersão provoca o anúncio da
Palavra: “Os que haviam sido dispersos iam de lugar em lugar, anunciando a
palavra da Boa Nova” ( At 2,11).
A comunidade
vive uma nova experiência: a sua linguagem pode diferir nos sons, mas não nos
sentimentos e nos ideais.
Muitas vezes
se faz uma oposição entre Pentecostes e Babel narrada em Gênesis 11,1-9.
Entretanto, não se trata de oposição, mas de confirmação. Em Babel há um
projeto de unificação de costumes, língua, cultura, uma verdadeira
globalização, diríamos hoje. A intervenção de Deus é justamente para evitar
esta uniformização, pois todos são dispersos e desta forma suas culturas e
identidades preservadas. Deus quer a unidade nele, mas cada um mantendo sua
identidade.
É provável que
a redação final do relato da Torre de Babel seja do exílio da Babilônia ou
mesmo do pós-exílio, entre 550 a.C. e 400 a.C. É um conto que ironiza a queda
do Império Babilônico. O nome Bab-il, em acádico, significa – Porta de Deus. A
intenção desta torre era ligar o céu e da terra, ser um símbolo sagrado. No
topo dessa torre estava localizado o santuário de Marduk, a divindade suprema
da Babilônia. Diante das grandes construções e da prepotência dos dominadores,
os judeus começaram a refletir sobre suas tradições e, provavelmente, nomearam
a torre principal de Babel, associando com o termo hebraico balal, que
significa confundir. Na realidade parecem dizer: Porta de Deus coisa nenhuma, é
uma grande confusão.
Em
Pentecostes, os Apóstolos falam e todos entendem em suas próprias línguas, ou
seja, também há uma preservação da cultura e identidade. Não existe
uniformidade, globalização de cultura para o entendimento da mensagem do
Evangelho, pois trata-se sem dúvidas da mensagem do Amor. Esta mensagem é
compreendida por todos os povos!!!